Quando estive no templo de Osun em Osogbo no palácio do Atoaja – Nigéria , fiquei intrigada em descobrir qual relação Osun tinha com Obaluaye, sabia que ali tinha uma grande estátua deste Orisa e faziam periodicamente festivais para Obaluaye partindo do templo de Osun.
Eu quero que você preste atenção aqui, um determinado Orisa, pôde com o tempo criar um vínculo a outro em uma região e local específico mas não em todo território Yoruba, isso se deu pelas relações, necessidades locais de culto das familias de Orisa, que faziam manutenção do culto .. + o próprio crescimento da comunidade e de novos adeptos e o vínculo importância com a coroa do Rei..tá até eu dei risada desta volta..kkkkkkkkkkkk
Quero dizer que talvez em uma outra parte de terra yoruba não exista qualquer relação entre Osun e Obaluaye – e tá tudo bem! É complexo? Sim e não..os cultos em cada região podem ter relações entre orisa que as vezes só acontecem em um local e essas relações são certificadas pelo tempo e sua eficiência. Basta então não generalizamos informações de terra Yoruba.
Lembrando que em Osogbo – Osun é a Orisa mais popular da região e seu rio (rio Osun) tem grande fluxo e culto. e o maior festival em número de pessoas de terra yoruba atualmente.
Nota antes de seguirmos ..Se você tiver mais informações sobre a relação de Osun e Obaluaye em Osogbo fico feliz que envie e possa adicionar aqui.
Seguindo .. em Osogbo:
Foi me dito que Obaluaye está no santuário para proteger a população contra a varíola, e que Osun e Obaluaye ajudavam a proteger a comunidade contra a doença, a varíola era muito grave em crianças, Osun por sua vez é também conhecida como uma grande cuidadora das crianças. Em um trabalho conjunto os dois Orisa então vem protegendo a população.
Olúsolá Ajíbádé no documento Negotiating Performance: Òsun in the verbal and visual Metaphors 2005 traz mais detalhes sobre essa relação e mais dados sobre Obaluaye dentro do aspecto de Estudo nesta comunidade de Osogbo:
“Para prevenir a epidemia de varíola na comunidade em tempos antigos e para acabar com ela, precisaram procurar o favor de Şànpónná. Osun é conhecida como uma espécie de pediatra, especialista em curar todas doenças infantis. O reconhecimento do poder de Şànpònná o fez necessário para melhorar a sobrevivência das crianças da varíola.
Também foi dito que as ajé fazem uso do poder de Sanpónná para infligir pessoas com varíola quando estão irritadas com essas pessoas. Nós temos evidências suficientes para afirmar que Òşun também é uma ajé. Portanto, é uma possibilidade de que seu relacionamento esteja conectado com suas funções no sistema de cura na cosmologia de Yorùbá.”
“Uma visita ao santuário de Òşun no palácio dá convicção de que Osun e Sànpònná estão inter-relacionados. Isto porque; eles fazem oferendas juntos no mesmo santuário, no mesmo altar”
Ele diz ainda que na estátua de Obalauye dentro do templo de Osun do palácio do Atoaja, tem cravado em madeira 9 mensageiros de Obaluaye. Ebùrù e Wòròkó ( nome de dois mensageiros) podem criar desarmonia e usar o vento para levar coisas ruins.
Quando rezam para Obaluaye o fazem contra o vento, para que não se espalhe nenhuma coisa negativa. Ele ainda diz que este Orisa tem vários nomes como: Sanpónná, Olóde, Ọbalúayé, Ilèégbóná, Ìgbóná..
Olúsolá Ajíbádé, avaliou em sua pesquisa que medicina moderna, não foi capaz de destruir a fé das pessoas em relação a pedir ajuda dos Orisa e que a canção abaixo lembra que eram os Orisa quem costumavam a cuidar das pessoas.
Uma canção popular de Osun diz:
Sélèrú àgbo
Àgbàrá àgbo
L’Òşun fi ń wọmọ rè
Kì dókítà ó tó dé
Abímọ-má-dáná-sílé
Òşun là ń fèyí kí.
Infusão de ervas (àgbo)
È Agbo que Òşun tem usado para curar seus filhos
Antes do advento dos médicos modernos
Quem dá à luz sem ter fogo em casa
Estamos usando isso para prestar homenagem a Osun
Eu lembro a todos neste momento que os Yoruba são exímios conhecedores de ervas e infusões, que a prática de Orisa não consiste apenas em orações mas que o conhecimento profundo de ervas medicinais, também tem feito de sua “fitoterapia” uma aliada. Também é preciso aqui fazer uma ressalva, a varíola foi erradicada pela vacina e os yoruba aprenderam então a acreditar na medicina científica em conjunto com os Orisa.
Os Orisa não causam mau deliberadamente. São os Humanos quem devem conhecer todas as coisas para que não desperte ajogun em suas vidas e na vida da comunidade.
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Segundo dados da Revista National Geographic:
A varíola pode ter se originado na Índia ou no Egito há pelo menos 3.000 anos. A evidência mais antiga da doença vem do faraó egípcio Ramsés V, que morreu em 1157 aC. Seus restos mumificados mostram marcas em sua pele.” A Varíola se espalhou em todo mundo em vários períodos. (https://www.nationalgeographic.com/science/health-and-human-body/human-diseases/smallpox/)
Segundo a Organização mundial da saúde a varíola só foi erradicada em 1977-1980. Vacinas contra varíola são aplicadas em todas as areas do mundo até hoje . Os dados de mortes ao longo do tempo estão entre 100 milhões e 300 milhões de pessoas não se sabe ao certo. Derrotar a varíola “foi uma das maiores realizações do século XX, se não uma das maiores realizações humanas de todos os tempos”, escreveram dois autores no Journal of Clinical Medicine Research.
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Faça um exercício que não abale suas crenças .. olhe o que estamos vivendo hoje em 2020 uma pandemia de coronavirus, estamos exercitando neste momento uma fé profunda na cura. Hoje com toda tecnologia, também rezamos para que medicos, doutores, cientistas achem a cura e que os Orisa os protejam e nos protejam e assim na mesma relação antiga.. quando chegar a cura do coronavírus damos a descoberta parcela da nossa orações que apoiaram a ciência e usamos a medicina cientifica sem perder a fé nos Orisa .. imagine em outros tempos onde os povos não tinham tanta tecnologia, ciência e conhecimento sobre fabricação de vacinas e encare que estamos aqui todos hoje porque eles conseguiram passar por diversas epidemias, sem romantizar.. milhões morreram e hoje podemos lutar para ter menos mortos em novas pandemias transformamos então a fé no Orisa também um apoio a própria ciência.