Em terra Yoruba Aganju não é “qualidade” ou um aspecto|caminho de Sango. E não é uma deidade ligada a vulcão.
Este texto visa mostrar por diferentes perspectivas o culto a Aganju.
Outro esclarecimento é que não visa destruir crenças, é um estudo livre que tentou buscar as fontes mais fidedignas para a visão dos Yorubas sobre Aganju.
Para começarmos é importante definirmos este conceito:
O Pesquisador Luiz L Marins nos faz elucidar sobre os termos “qualidade” de Orisa usados no Brasil e o termo caminho ou aspecto usado pelos Yorubas.
O caminho ou o aspecto
“a mesma divindade pode ter vários caminhos, pois, em suas caminhadas por varias cidades, uma mesma divindade pode ser cultuada de varias formas.”
A qualidade na diáspora:
“quando divindades diferentes tem os mesmos atributos, são semelhantes, são agrupadas como qualidade de uma divindade maior, que representa todas … isto é um aspecto da diáspora..”
Esclarecimentos da Asa Orisa Alaafin Oyo – Dra.Paula Gomes
Gostaria de contribuir com alguns pontos. Aganjusola de fato não é um Orisa, mas sim cultuado como um antepassado.
-Oranyan não e filho de Odudua, mas sim neto. Ele e o ultimo filho de Okanbi que era filho de Odudua.
-Ajaka nunca se refugiou em Igboho, pois Igboho so foi fundado em 1534 e Ajaka reinou alguns séculos antes de Igboho ser fundada.
-Sango nunca se refugio em Koso, Sango (Tella Oko) se refugio na mata e o local onde ele desapareceu e deixou os edun aras para ser chamado sempre que o seu povo necessite de sua ajuda, só depois de ele ter desaparecido pela terra dentro deram ao local o nome de KOSO, que significa Ko So, não se enforcou. Antes disso Koso nao existia. Até os dias de hoje o poder deixado por Tella Oko- Sango está em Koso em Oyo sobre a custodia do Mogba Koso.
-A outra questão e sobre Afonja Kakanfo de Ilorin, ele era o general ou comandante das forças militares do Alaafin, descendente de Sango (Tella Oko), por isso tinha o titulo de Kakanfo e foi ele que traiu o Alaafin e ajudou no declino do Império de Oyo . Todos os Afonjas são descendentes de Sango AFA KO JA, difícil de separar. O Kakanfo depois de trair o Alaafin, ficou em Ilorin e os muçulmanos tomaram posse daquela área.
-Outra questão muito interessante e sobre o leopardo de Aganju, o presente Alaafin sempre salienta que os Oyos tinham a técnica de apurar o DNA de uma forma tradicional. Os Alaafins sempre tiveram leopardos como bichos de estimação que conheciam o seu odor e sempre que um filho do Alaafin nascia, o recém nascido era dado ao leopardo para confirmar se realmente era filho ou não. Caso o cheiro do recém nascido fosse igual ao do Alaafin, o leopardo lambia o recém nascido como forma de acarinhar o dono, pois tinha o mesmo odor do pai, caso o cheiro fosse diferente ele rejeitava o recém nascido e desta forma eles testavam o DNA.
Jakuta não é Sango, mas sim o dia da semana que Olodumare dedicou a Sango.
Igbono significa febres altas e esta relacionado com Obaluaye, por isso ele sai durante o calor a rua para tirar a doença em Igbono.
-Terei que confirmar se Aganju era irmão ou primo de Sango.
– Baru e Ogodo nunca ouvi falar, mas podem estar relacionadas a Sango ou não, pois Sango era muito popular e tinha diferentes nomes em diferentes localidade por onde passava.
–Oranfe não tem nenhuma ligação com Sango
– Omo Ekun, Saki, Arabambi, Afonja, Oba koso, Ayi Legbe Orun, Olufiran são alguns nomes de Sango.
Baba Nathan Lugo(Oloye Aikulola Oluwin-Oosa) da uma visão sobre Aganju e o culto na cidade Saki-Oyo
” Aganju é um Orisa diferente, tem relação com Sango por ser descendente de Oranyan mas NÃO É SANGO. Tem outro assentamento, os oriki são diferentes, ele foi um rei Guerreiro, caminhava com espada.
Outro nome que alguns creditam a Aganju é Okere, e que ele quem casou com Yemoja. Em Saki tem vários sacerdotes de Aganju, Saki é uma terra montanhosa onde tem rochas, é uma savana, não tem floresta grande, nas montanhas rochoasas quando bate sol lembra fogo, pode ser por isso que algumas pessoas associaram na diáspora Aganju com Vulcão. “
Em Abeokuta, Baba Awodélé Ilésire Sówùnmí conta que a tradição é bastante diferente: “Dentro da tradição de Abeokuta Aganju não é considerado um Orisa e sim um ancestral divinizado, porque ele foi Rei de Oyo, tem alguns rituais para ele, tem suas insígnias, em Abeokuta Dada (que foi outro Alaafin de Oyo e também não é um aspecto de Sango) é mais forte que Aganju, tem até um nome especifico para o local de culto”.
Baba Obanifa (Yoruba) fez um desabafo sobre Aganju para o canal Nigeriano Exchange IFA(Facebook):
“Quero com esse artigo corrigir algo errado que vem sendo amplamente aceito e é uma calunia! Histórias que as pessoas na diáspora contam em forma de Macumba, Lukumi e Candomblé sobre Orisa. Distorcer os fatos históricos sobre este Aganju é o resultado de impacto negativo sobre o comércio de escravos do nosso povo ao longo dos anos, o nome e alguns fatos históricos deste orixá tem sido distorcidos.”
Ele descreve Aganju como Primo de Sango:
A verdadeira históra é que Orisa Aganju é um primo de Sango. Vou explicar os detalhes agora. Orisa Aganju foi Rei do império de Oyo! Ele reinou depois do seu pai Aajaka. Oranyan é o último filho de Oduduwa. Oranyan é o primeiro rei do império de Oyo e teve vários filhos. Após o falecimento do Oranyan é Aajaka o irmão mais velho de Sango que se tornou o Rei do império de Oyo.
Aajaka era um homem muito tímido com menos valor para a guerra, por isso, muitas cidades tentaram invadir o império de Oyo. O irmão mais novo, Sango, assumiu assim o trono mas era impetuoso tinha hábitos de testar o seu poder de fogo , contam que ele subiu em uma montanha e queimou todo o palácio e destruiu a sua propriedade. Isto levou Sango ao fim de seu reinado.
Aajaka irmão mais velho de Sango assume novamente o reinado ele estava em asilo político em uma cidade chamada Igboho. Por esta altura quando Aajaka volta nasce seu filho Aganju.
Após o falecimento do Aajaka. Aganju se torna a o terceiro rei do império de Oyo. Ele era um rei muito corajoso. Ele era amante da natureza e de animais. Ele amava a beleza. Ele gostava de animais selvagens. Ele domava animais em seu palácio. Aganju tinha um Leopardo domestico em seu palácio. Ele adora miçangas majoritariamente com a cor vermelho, amarelo, azul claro, azul escuro, verde, marrom profundo, branco leitoso. Ele tem algumas semelhanças com Sango.
Este Orisa é bom para as pessoas a fazerem negócios e também bom para a beleza estética, Música e filmes. Aqueles que enfrentam a opressão de qualquer espécie também podem invocar o espírito deste Orisa. Ele um primo de Sango. Depois da morte ele vira de Orisa. O seu símbolo principal é uma espada e duplo fio de machado.
Babalawo Kola Abimbola descreve Aganju como irmão de Sango, e que o nome inteiro de Aganju é Aganjusola. Foi o Alafin de Oyo, e como Sango, odeia mentirosos, ladrões ele foi um grande guerreiro o império expandiu, ele construiu um imenso palácio e até hoje o pátio central do palácio do Alaafin é dedicado em sua memória tem o nome de Aganju é onde fica o Kobi, extensão a do palácio” (Yorùbá Culture: A Philosophical Account Por Kọ́lá Abímbọ́lá)
.
Segundo site Litcaf, Nigéria, descreve : Aganju foi quinto Alaafin de Oyo, e filho de Ajaka. Sua ascensão ao trono foi desprovida de dramas, o que provavelmente teria sido o caso se ele tivesse um primo de Sango, seu tio. Ajaka projetou o palácio de forma inovadora como rei, e ele domesticou alguns animais selvagens. Diz-se que ele tinha répteis em casa, alguns dos quais podem ser vistos rastejando sobre seu corpo. Aganju foi responsável por erguer mais de 120 Kobi, tocas altas de palha e varandas debaixo deles. Somente o palácio do Alaafin na Antiga Oyo teve a permissão de ter este kobi, que serviu como um lugar para que o Alaafin veja população e cumprimentassem em seu pátio sem se expor inteiramente.
Aganju conduziu um reino longo e próspero, o reinado foi abalado apenas no fim da vida por conta de uma mulher bonita que conheceu. Ele travou guerra contra o senhor de uma cidade vizinha, por recusar-lhe a mão de sua filha em casamento. Príncipes e guerreiros morreram na guerra. Aganju também havia matado seu suposto herdeiro, Lugbe, depois que mais tarde foi encontrado tendo contatos íntimos com a nova beleza de seu palácio, Iyayun, filha do Onisambo que ele capturou. O rei foi, portanto, dominado pelo sofrimento e morreu não muito tempo depois, meses depois que Iyayun ficou grávida do filho que se tornará o sexto Alaafin.
Kobi a extensão do palácio do Alaafin de Oyo leva ainda hoje o nome de Aganju:
(https://litcaf.com/aganju/)
Alaafins de Oyo, Marcas Históricas – Por PGCulturalFoundation – Dra. Paula Gomes
REIGNS OF THE ALAAFINS OF OYO and SOME HISTORICAL MARKS
892 Oranyan – Oyo-Ile was found
1042 Ajaka Dada
1077 Tella Oko –known as Sango Afonja
1137 Ajaka
1177 Aganju Sola
1300 Kori – Osogbo and Ede were found
1357 Oluaso
1471 Portugal 1st contact with Yoruba cities
1472 Eko is named LAGOS by the Portuguese
1530 – 1542 Onigbogi
1512 Ofinran – Saki was found
1534 Egungun Oju – Igboho was found
Nupe occupied Oyo- Ile
1554 Orompoto
1562 Ajiboye
1570 Abipa – Oyo-Ile rebuilt
1588 Obalokun – salt (Sodium Cloride)
introduced in domestic use into Yoruba Land Alaafin set envoys to court in Portugal
1600 Aja
1658 Odarawu
1660 Karan
1665 Jayin – 1 st Awujale of Ijebu appointed
1676 Ayibi – Oyo spanned 150.00 km2
1690 Osiyago – 1728 Oyo stats invade Dahomey
1732 Gberu
1738 Amuniwaye
1742 Onisile – 1748 subjugating the Dahomey
1750 Labisi – spent in the throne only 15 days committed suicide because of Basorun Gaha
1750 Awonbioju – spent 130 days in the throne
1750 Agboluaje – 1754 stars decline in the Empire with intrigues of Basorun Gaha..
continua..
Baba Hérick Lechinski (Ejòtọ́lá) escreve sobre os Os 12 Ṣàngó (Xangôs) da Bahia e a relação com a terra Yoruba:
Muitas pessoas me perguntam a respeito de “Ayrá”, de “Aganjú” e de outras “qualidades” de Ṣàngó cultuadas no Candomblé (Brasil), então, hoje decidi escrever um pouco do que sei sobre Ṣàngó e as 12 “qualidades” do mesmo no Candomblé.
Ṣàngó é a Divindade iorubá (Imọlẹ̀/Òrìṣà) do raio, do trovão, da força, do poder e da realeza. Muitos confundem a Divindade PRIMORDIAL Ṣàngó com o 3º Aláàfin Ọ̀yọ́ (Rei de Oió) que é Tẹ̀là Òkò, que pelas características do seu nascimento é considerado uma reencarnação de Ṣàngó na Terra, mais precisamente em Ọ̀yọ́. Muitos dizem que Ṣàngó só se tornou Divindade aqui na Terra, depois da sua morte, ou seja, que é um ancestral divinizado, mas é mentira, Ṣàngó é uma Divindade primordial criada por Olódùmarè, assim como Èṣù, Ọbàtálá, Ọya, Ọ̀ṣun, Yemọja dentre outras, Tẹ̀là Òkò foi apenas uma reencarnação sua. E é de suma importância saber a diferença de Ṣàngó Divindade (Ayílẹ́gbẹ́ Ọ̀run), para Ṣàngó Rei de Ọ̀yọ́ (Tẹ̀là Òkò).
Pierre Verger, em seu livro: Orixás, Deuses Iorubás na África e no Novo Mundo, declara: “Na Bahia, diz-se que existem doze Xangôs: Dadá; Oba Afonjá; Obalubé; Ogodô; Oba Kossô; Jakutá; Aganju; Baru; Oranian; Airá Intilé; Airá Igbonam e Airá Adjaosi. Reina uma certa confusão nesta lista, pois Dadá é irmão de Xangô; Oraniam é seu pai, e Aganju, um de seus sucessores. Também na Bahia acredita-se que Ogodô é originário de território tapá, e que segura dois “oxés” quando dança, sendo o seu edun ara composto de dois gumes. Os Airá seriam Xangôs muito velhos, sempre vestidos de branco e usando contas azuis (segi) em lugar de corais vermelhos, como os outros Xangôs. Ao que parece, teriam vindo da região de Savé.”
Com todo respeito a tradição e aos sacerdotes do Candomblé, irei esclarecer um pouco sobre esta lista, de acordo com meu aprendizado e conhecimento.
Mas antes de qualquer coisa é importante dizer que, quando o culto
aos Òrìṣà chegou aqui em nossas “terras brasilis”, o culto de muitas Divindades se perdeu, e o de algumas foi miscigenado ou aglutinado ao culto de outras, como aconteceu no caso de Ṣàngó.
1º Dadá: Dàda é o nome iorubá dado às crianças que nascem com os cabelos encaracolados e que geralmente são consagrados ao Òrìṣà Baáyànnì (irmão do Òrìṣà Ṣàngó). Quando se fala de Dàda como irmão de Ṣàngó, está se falando de Dàda Àjàká, irmão de Tẹ̀là Òkò, que foi o 2º Aláàfin Ọ̀yọ́. Dàda Àjàká não é um Òrìṣà, uma Divindade, foi apenas um rei, um ancestral. Possui culto, mas não consagração em pessoas. Diferente de Baáyànnì, que é irmão de Ṣàngó (Divindade) e também era a Divindade tutelar de Àjàká, por este ser Dàda (nascido com cabelos enrolados). Consagrase pessoas para Baáyànnì e não para Dàda Àjàká. Que assim como Odùduwà, Ọ̀rànmíyàn e Aganjú em Ọ̀yọ́, cidade de origem dos mesmos, são considerados apenas reis míticos e “cultuados” por sua importância, mas não são considerados Òrìṣà que são consagrados em pessoas.
2º Oba Afonjá: Confundem muito Àfọ̀njá, o Kakanfò de Ìlọrin (que era muçulmano), com Àfọ̀njá título de Ṣàngó, Àfọ̀njá é um título da Divindade Ṣàngó, encontrado em alguns dos seus oríkì.
3º Obalubé: Ọbalúbẹ é também um título de Ṣàngó, encontrado em alguns dos seus oríkì.
4º Ogodô: No Brasil fala-se que Ogodo é de origem Tapá, mas não se sabe ao certo se é uma Divindade, um Ancestral divinizado, se foi rei ou não e o que fez o mesmo ter o seu culto aglutinado ao de Ṣàngó no Brasil. Mas, confesso que AINDA (possa ser que exista) não vi e nem escutei nada sobre Ogodo de Nigerianos, muito menos relacionado a Ṣàngó.
5º Oba Kossô:
Ọba Kòso, literalmente rei de Kòso, é também um título de Ṣàngó, encontrado em alguns de seus oríkì.
6º Jakutá: Jàkúta, é também um título de Ṣàngó, significando aquele que combate com pedras (de raio), encontrado em alguns de seus oríkì…
7º Aganju: Aganjú Ṣọlá é irmão de Tẹ̀là Òkò (Ṣàngó), foi o 4º Aláàfin Ọ̀yọ́. No Brasil fala-se que Aganjú é seu sobrinho, mas em Ọ̀yọ́ ele é seu irmão mais novo. E sua situação é a mesma de Dàda Àjàká, por ter sido um importante rei para Ọ̀yọ́, o mesmo é lembrado e cultuado através de seus símbolos, como espadas e etc. Mas não é um Òrìṣà, uma Divindade que seja consagrada em pessoas. Porém, nas religiões afrobrasileiras como o Candomblé e o Batuque e afro-cubana como a Santeria, o mesmo possui muitos filhos, e isso faz com que muitos estrangeiros vão até a Nigéria em busca de consagrações a esta Divindade e nigerianos sem escrúpulos acabam por realizar estas consagrações, apenas visando ganho financeiro.
8º Baru: Muito se fala sobre Baru/Gbaru/Igbaru no Brasil, muitos chegam a dizer que é uma Divindade distinta de Ṣàngó, assim como já escutei quem fale que é um título de Ṣàngó dentro do templo de Ọbàtálá em Ifọ́n. Mas, também confesso que AINDA (possa ser que exista) não vi e nem escutei nada de Nigerianos sobre esta Divindade ou título de Ṣàngó…
9º Oranian: Ọ̀rànmíyàn, filho de Odùduwà, pai de Dàda Àjàká, Tẹ̀là Òkò e Aganjú Ṣọlá, foi o 1º Aláàfin Ọ̀yọ́, patriarca da dinastia Aláàfin, grande rei, ancestral de grande importância para o povo iorubá (de Ọ̀yọ́) e por isso cultuado como tal, mas não é um Òrìṣà que se consagra em pessoas, pelo menos em Ọ̀yọ́, cidade de origem do mesmo.
Airá: Como já dito por Pierre Verger: “… Ao que parece, teriam vindo da região de Savé…”. E confirmado por outros autores iorubás, na
verdade Airá cultuado no Brasil, seria a Divindade Àrá, Divindade dos raios e trovões, cultuado em Ṣábẹ́. E grande confusão existe em relação a Airá/Ayra (cultuado no Brasil), que acredita-se que seja a Divindade Àrá de Ṣábẹ́, com Àrìrà, título de Ṣàngó, encontrado em alguns de seus oríkì.
10º “Intile”, seria segundo alguns, o antigo nome de Ìtàsá, cidade qual Àrá era patrono. 11º “Igbonam”, do iorubá, Ìgbóná = calor febre, título dado às divindades ligadas ao fogo, e por ser Àrá uma divindade do raio, acredito que esteja também associado ao fogo. 12º “Adjaosi”, desconheço seu significado, pode ser que esteja associado ao culto de Àrá em alguma das regiões que o cultuam, pode ser que não.
Espero através deste pequeno artigo, desmistificar confusões que ainda existe em relação à Ṣàngó, seus títulos e suas “qualidades” no Candomblé (Brasil)…
BARRETTI FILHO, Aulo. Dos Yorùbá ao Candomblé Kétu, Edusp, São Paulo, 2010.
Traz também parte da história do reinado de Aganjú em Òyó, bem como sua história familiar:
[…] O reinado de Aganjú foi longo e próspero. Ele tinha o dom de domar os animais selvagens e serpentes venenosas. Podia ver várias delas arrastando-se pelo seu corpo sem fazer mal algum. Dentro de sua casa ele tinha um leopardo dócil, onde se podia ver Aganjú encostar seus pés no animal como se fosse uma esteira, onde demonstrava seu poder e virilidade […]
Segundo Adésolá Olátéjú do Ilé Àse Ekùndéyi (2005, p. 368-383), O leopardo é considerado pelos povos Yorùbá um animal sagrado, e foi domesticado no reinado de Aganjú em Òyó como prova de sua coragem e ousadia.
NO BRASIL
Certamente o nome Aganju ficou mais conhecido pelas mãos de Pierre Verger que acompanhou a fundação do Ile Axe Opo Aganju do Babalorisa Balbino Daniel de Paula, 75 anos, em Lauro de Freitas Bahia Terreiro da linhagem tradicional de Ketu, saído do Ilê Axé Opô Afonjá. Vemos que em todas entrevistas concedidas por Baba Balbino ele sempre se refere a Aganju como sinônimo do Orisa Sango.
O fenômeno de aglutinação misturando por vezes os caminhos e outras deidades pode ter sido a alternativa mais viável para que alguns cultos Brasileiros prosperassem, no caso de Aganju, Pierre Verger em suas obras demonstra ter plena consciência que trata de um outro ser mítico “Aganju, um de seus sucessores.” – referindo a Sango – No livro dos Orixás .
“ Aganju é considerado o mais jovens dos Sango. Na região Yoruba consta entre os primeiros reis e teria subido ao trono após Ajaka ( dada) , irmão de Sango. “ Nota sobre o culto aos Orixás e Voduns.
Em dois itans recolhidos da Casa de Oxumare – Salvador , Bahia fica claro como Aganju é uma deidade separada de Sango, o primeiro itan relata um reinando curto de Sango sugerindo que eram contemporâneos, e não a reencarnação um do outro. Em outro itan relata que Sango ensina Aganju a manipular o fogo, e desta vez se refere a Aganju como uma deidade dos vulcões – os itans estão na integra no final do artigo.
Bruno Ifágbémi Ṣówùnmí, iyawo de mãe Ana de Ogum – Ilé Àse Ojú Onire – Agba da Casa de Oxumarê descreve:
Itan Casa de Oxumare 1
“Dàda Bàayànì Àjàkú, o Filho de Òrànmíyàn e Ìyá Mòrèmí, dono da cumeeira de nossa Casa.
Antes de Ìyá Torosí, Òrànmíyàn casou-se com Ìyá Mòrèmí e com ela teve um filho, cujo os cabelos nasceram em tufos, era Dàda Bàayànì Àjàkú. Dàda (Àjàká), que também foi um Aláàfìn Òyó, irmão de Sàngó, era um rei muito calmo e pacífico e sua personalidade não permitiu-lhe ser um grande comandante. Aproveitando-se disso, Sàngó apossou-se do reinado de Òyó, tornando-se Aláàfìn.
Dàda Bàayànì Àjàkú, passou, então, a reinar um povoado próximo de Òyó. Envergonhado com o seu despojamento, Dàda passa a usar uma coroa que lhe cobre todo o rosto (Adé Bàayànì), a qual tiraria apenas quando reconquistasse seu lugar em Òyó.
O reinando de Sàngó durou exatos sete anos, nesse período, ele foi um governante cruel, sendo chamado de aterrorizador (Èrùjèjè), desta feita, Sàngó abdica do trono de Òyó e se refugia em Kòso, lugar onde ele desaparece aos pés de um Igi Àyàn.
Um provérbio yorùbá diz: “De Wole Nira Oya, Ni Kòso Do Wole Sàngó” (“Oya adentrou à terra em Irá e Sàngó adentrou à terra em Kòso).
Isto posto, Dàda Bàayànì Àjàkú retomou o reinado de Òyó, governando a cidade até sua morte. Posteriormente, Aganjú seu filho, torno-se o novo Aláàfìn.”
Itan Casa de Oxumare 2
Sàngó Ensina Aganjú a Controlar o fogo:
Hoje, vamos contar uma história de Aganjún, Divindade da Família de Sàngó.
Aganjú é o Òrìsà da força, deidade do sol e dos vulcões (Obá AganjúOniná Oke – “Rei Aganjú, lava das montanhas…”), ele é a força em chamas que emerge da terra.
Aganjú passava por sérios problemas em seu reinado (vizinho à Òyó), sabedor disso, Sàngó o procurou, afim de “ajudá-lo”. Próximo às terras deAganjú, Sàngó ouviu vozes e, se escondeu entre as árvores, objetivando observar o que estava acontecendo. Ficou espantado ao ver um homem em chamas, era Aganjú.
Ao lado dele estava Òsun, que com a sua água doce, tentava acalmar aquele homem em chamas. Aganjú estava muito nervoso, afinal, seu reino estava em decadência, não obstante, percebeu que havia alguém lhe olhando e, nervoso, indagou quem era.
Sàngó mostrou-se, dizendo: “Sou Sàngó, o Aláàfìn Òyó”. Irritado, Aganjúperguntava quem lhe havia dado permissão para entrar em suas terras. Sàngó disse que não precisava de autorizações, sendo ele o rei de Òyó.
Cada vez mais furioso, Aganjú disse: ‘Você não sabe a que perigo está se expondo com tanta ousadia! Sabe que posso transformá-lo em cinzas agora mesmo?”. Rindo, Sàngó disse que se quisesse poderia transforma-se em fogo também.
Intentando alarmar Aganjú, Sàngó se tomou por fogo, mostrando o seu poder e dizendo que queria apenas ajudá-lo. Aganjú, então, questionou de que forma Sàngó queria lhe ajudar.
O rei de Òyó disse que poderia lhe ensinar a controlar seus poderes, sendo que Aganjú, acabava por queimar todos àqueles que se aproximavam e, que poderia ser uma espécie de “porta voz” do seu povo.
Desconfiado, Aganjú perguntou porque ele estava fazendo isso; Sàngó disse que temia que os problemas chegassem à Òyó e por isso estava se prevenindo.
Òsun, que continuava jogando água em Aganjú, percebia que aquela não era a verdadeira intenção de Sàngó. Aganjú disse que aceitaria a oferta de Sàngó, mas perguntou qual o preço que teria que pagar por isso.
Sàngó, por sua vez, disse que não havia necessidade em lhe pagar, no entanto, deveria, a partir daquele momento, utilizar todas as ferramentas de Sàngó, tais como Osé e o Séré.
“Desse modo, seu povo, ao ver em minhas mãos as mesmas insígnias usadas por você, não contestará a minha autoridade e, reconhecendo os atributos, acatarão as ordens que a eles eu irei transmitir, afirmou Sàngó”.
Aganjú indagou a opinião de Òsun, que já flertava com Sàngó. Òsun disse acreditar ser um bom negócio, podendo desta forma, restabelecer a ordem em seu País.
Diante disso, Aganjú aceitou a proposta de Sàngó e recebeu do Aláàfìn de Òyó um Séré e um Osé.
Feito isso, Sàngó impôs no reinado de Aganjú o seu regimento e, Aganjúpor sua vez, começou a utilizar-se das ferramentas de Sàngó. Anos depois, Aganjú tornar-se-ia também um Aláàfìn Òyó.
https://www.facebook.com/pg/casadeoxumare
Baba Erick Wolf fala sobre Sango e Aganju na tradição do Batuque: Sango no Batuque tem um grande diferencial, ele praticamente rege e confirma as obrigações e rituais, o povo considera que Sango confirma as obrigações, por isso existe um ritual ao qual todas as divindades chegam neste momento, o ápice da festa chamado de balança, bom, após a balança os Orisa vão para a frente do tambor. Dançar Aluja, menos Osala e Yemanja…. este alija existem dois diferentes que pode ser tocado para Aganju ou para Agodo
No batuque, Aganju uma qualidade de Sango presente em todos os rituais como dito
Outras Bibliografias não citadas no corpo do texto:
http://mundoafro.atarde.uol.com.br/tag/ile-axe-opo-aganju/
https://www.facebook.com/exchangeifa/posts/1337524972995166:0
Autora: Renata Barcelos