O Interesse pelos Orisa em terra Yoruba – Africa está crescendo a cada dia, com isso nos tornamos também responsáveis pela preservação e pela compreensão do culto a Orisa. Esse texto espera lucidar algumas questões para que você saiba como ajudar a preservar a religião Orisa a partir da minha visão sobre os Orisa em terra Yoruba.
POR RENATA BARCELOS – YEMOJAGBEMI OMITANMOLE ARIKE
Uma das famílias mais bacanas que conheci de Yemoja está na cidade de Saki – Oyo – Nigéria – Africa, preservam um culto familiar lindíssimo e me fizeram refletir bastante sobre sua preservação.
Existem muitos fatores compartilhados que ajudam com que se fortaleçam como um grupo. A individualidade do saber ancestral é o que venho aqui chamar sua atenção.
Quero também chamar atenção para a existência de uma tentativa de homogenização que esta ocorrendo atualmente, erroneamente muitos acreditam que o culto de Ifá é o nome da religião Orisa na Africa. Como se a verdade absoluta viesse de um culto de Orisa chamado Orunmila /Ifá e que este contem toda filosofia yoruba e que dentro dele é igual coeso . Lembra dos “ismos’ que falei acima? Também as casas de Orunmila faz Orunmialismo, e Ifaismo o Orisa Orunmila está no centro do culto tendo outros periféricos assim como os outros Orisa tem Orunmila como um Orisa periférico, e dentro das muitas casas de Orunmila também existem peculiaridades exclusivas, como por exemplo tem famílias que sacam o odu ifa do ano em datas diferentes, tem famílias que até mesmo o apola dos odu ifa se diferem se você olhar rituais de itefa de 10 casas diferentes verá que até mesmo as pinturas iniciáticas do itefa não são iguais. A tentativa de homogenização também afeta os grupos de Orunmila/ifá. Existem sim movimentos paralelos ligados a duas grandes organizações Green Circle – Conselho Internacional de Ifá e a ARSADIC que querem uniformizar todos os cultos de Orisa a partir da regulamentação estipulada por eles e incluem nisso as próprias casas de orunmila , o conselho que conseguir mais membros evidente terá mais destaque no futuro, as estrategias são muitas as mais atuais foram apontada no texto do Baba Omotobala https://orisabrasil.com.br/Loja/a-igreja-de-orunmila-ifa-ijo-orunmila-esta-mudando-a-mitologia-yoruba-tradicional/ contudo estes dois conselhos também tem divergências entre eles e não conseguiram se unificar.
Venho aqui falar do como você olha para o culto dos Orisa na Africa, ifá não é o nome da religião Orisa em terra Yoruba e sim devemos nos referir como ESIN ORISA IBILE e ou ISESE LAGBA, engloba a amplitude dos cultos familiares que quero que você pense.
Evidente neste momento mais fácil o elo Brasil – Africa seja pela internet ou seja para ir até la, mas se você não entender que existem praticas diferentes, ajudará a matar um pouco o culto familiar sem nem mesmo se dar conta do que esta fazendo.
>>>> Os clãs familiares de Orisa não beiram a extinção mas sim a sobreposição que pretende dar uma base geral a todos sem levar em conta o saber local.
Das minhas pesquisas cada família de devotos de um Orisa pode ter seu próprio grupo oral/autoral composto de Ese, itan, orin etc e grupos que cultuam um mesmo Orisa em diferentes cidades e regiões podem ter diferenças em suas tradições, outros oriki, outras canções, não há hegemonia!
E ainda me parece até mesmo equivocado limitar por etnia ou cidade as diferenças, pois ainda em uma mesma localidade mudanças entre duas famílias que cultuam o mesmo Orisa podem ocorrer = e geralmente já começa a disputa saudável ( em um oriki ) de qual é a mais antiga na região ..Ou entoam nome de membros de sua família ou o nome do seu condado etc..
Por que em minha torpe analise, todo esse conjunto oral está ali para contar a historia e atender as necessidades de existência daquele local, novos itens vão sendo acoplados, novas cidades também surgem em canções, e um enfrentamento com católicos e islâmicos vira um novo verso, a maneira de lembrar deles mesmos, de dizer uns aos outros quem são e o que fazem, e surge ali a arte, a medicina, a literatura, a advocacia, o entretenimento , o sagrado em um complexo rico que não deveria ser apagado ou unificado por sobreposição.
Sobre a oralidade, diz Gbadegesin
“A Oralidade é a transmissão de fatos, valores e ficções através de meios orais ” a crônica dos eventos, mitos, lendas, idéias cosmológicas os provérbios, os contos populares dos contadores de histórias e os enigmas dos artistas verbais e da língua são os constituintes da tradição de um povo.”(Gbadegesin, S. 2012)
Segundo Omolasoye (2012), podemos encontrar a seguintes classificações;
- Owe os provérbios Yoruba,
- Alo o folclore,
- Oriki a maneira de louvar um nome, muito acham que o Oriki é só de Orisa mas o fato é que , reis tem oriki, cidades tem oriki e cada pessoa pode ter seu próprio oriki, Ofo encantamento, o iwure a reza.
- Ese – os versos que compõe os odu estes precisam ser como como uma orientação espiritual “medica” – a situação é essa , você precisa fazer isso, para ter o resultado
- Pipe – entoações para a Orisa
- Ijala que são entoações especificas dos caçadores,
- Itan que são lendas, mitos mas que não precisam necessariamente seguir a estruturação do Ese odu
- Orin as canções
- Iyere ifá, o poema tonal de ifá
Tem ainda poemas e cantos para hora do nascimento, do casamento , para a hora dos ritos funerários como Dentro disso no momento da louvação muitas famílias de Orisa improvisarão não por esquecimento, mas por tamanho domínio que fazem brincadeiras com frases e palavras, algumas famílias podem não repetir nada que tenha decorado, e começar a improvisar uma invocação ao Orisa e tem tantos outros tipos.
Veja mais em: https://orisabrasil.com.br/Loja/voce-como-interpretar-um-verso-ese-orisa/
REFERENCIAS:
GBADEGESIN, S. “Aspect of Yoruba Oral Tradition: Importance, Richness and Limits in the Context of Unfreedom.” Paper Presentation for National Association of Yoruba Descendants in North America, Yoruba National Convention, New York, 2012.)
OMOLASOYE, Adesoye. “Yoruba Oral Literature As A Panacea For Unemployment In Nigeria”. Knowledge Review Volume 25, N. 1, November, 2012