REVISTA OLORUN, n. 42, setembro de 2016 – ISSN 2358-3320 – www.olorun.com.br
Por : Luiz L. Marins – www.luizlmarins.com.br – Copia para Orisa Brasil previamente autorizada.
RESUMO
Apresenta de forma rápida, sem aprofundar, algumas curiosidades e diferenças nas hierarquias dos odus de Ifá, conforme a publicação de alguns autores clássicos como Wande Abimbola, William Bascom, Chief Fama, Afolabi Epega e Fasina Falade.
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Nota: Este texto não seguirá as normas gráficas internacionais do idioma ioruba, utilizando-se de ortografia livre, para facilitar a compreensão.
INTRODUÇÃO
Sabemos que em uma cultura de tradição oral não existe uma verdade única absoluta, coexistindo pacificamente várias formas culturais similares ou adversas. Não há conflito na tradição oral propriamente dita, que só começam a ocorrer quando estudiosos começam a grafar a tradição oral.
Nesta passagem da tradição oral para a escrita, muitos interesses surgem, muitos sacerdotes com amplo conhecimento da oralidade, mas que também são acadêmicos, esforçam-se através das letras impor no papel a sua forma cultural e religiosa de forma absolutista e totalitarista.
Devido a isso surgem os conflitos teológicos e litúrgicos, pois cada sacerdote acadêmico (acadafro, como costumo chamar) pretendem a sua forma cultural como se fosse uma verdade absoluta para todos.
Sendo assim, para que a informação não se perca, registraremos aqui algumas diferenças de hierarquia dos odus publicadas por sacerdotes da tradição oral.
A HIERARQUIA CONVENCIONALMENTE ACEITA ATUALMENTE
Como referência, usaremos a hierarquia do Ijo Orunmila Ato de Lagos, que hoje parece ter se tornado padrão, sendo majoritariamente aceita pelos sacerdotes de Orunmila. Isto não significa que esta seja a única correta, e nem que as variações sejam erradas.
A forma a seguir é apenas uma convenção, publicada por Fasina Falade, babalaô do Ijo Orunmila Ato, de Lagos, tem se tornado padrão, pelos menos, na etnografia:
ABIMBOLA E A INVERSÃO DOS SINAIS GRÁFICOS DOS ODUS OSA E OTURUPON:
Em 1976, Ogunwande Abimbola, da família tradicional de Ogun, Oyó, no livro Ifá, An Exposition of Ifá Literary Corpus, inverte (?) os sinais gráficos dos odus osa e oturupon, em relação aos sinais que hoje são convencionados, republicando-os da mesma forma em 1977 no livro Awon Oju Odu Meerindinlogun:
Não sabemos dizer se foi apenas de um erro de edição, mas que teria sido cometido duas vezes, ou se a informação foi assim recolhida no campo. No mesmo ano Abimbola, reconsidera no livro Sixteen Greats Poems of Ifá (Unesco) esta inversão de sinais dos odus osa e oturupon, reescrevendo-os de acordo com a convenção atualmente aceita:
WILLIAM BASCOM E A HIERARQUIA DIFERENCIADA DOS ODUS MAIORES
Bascom, no clássico livro Ifá Divination, 1969, mostra uma alteração na ordem dos dezesseis principais odus em relação à convenção atualmente aceita. A alteração da ordem em relação ao convencional ocorre com os seguintes odus: Obara, Okanran, Irosun, Owonrin, Irete, Otura, Oturupon e Ika.
CHIEF FAMA E A HIERARQUIA CONVENCIONA DOS OMO ODUS
Chief Fama publica em 1991, no livro Fundamentas of the Yoruba Religion, a hierarquia convencional de sua escola, o Ijo Orunmila Ato, de Lagos.
A importância da publicação de Fama não está nos dezesseis odus maiores, mas na sequência hierárquica dos omo odus. Veremos mais à frente que esta sequência conflita diretamente com a hierarquia dos omo-odus da escola de Epega.
EPEGA E A HIERARQUIA REVERSA DOS OMOS ODUS
Repare que, na ordem da escola de Epega, o omo odu número 18, oyeku-ogbe, não pertence ao apola oyeku, mas ao apola ogbe, diferente da escola de Fama, o Ijo Orunmila Ato, Lagos. E assim, sucessivamente, o omo odu mais novo pertence imediatamente ao apola mais velho.
Com isto, o omo odu mais velho sempre terá uma quantidade maior de odus, em relação ao mais novo, como veremos.
[…]
O odu oyeku-ogbe, na escola do Ijo Orunmila Ato, de Lagos, pertence ao apola oyeku e ocupa a posição n. 32. Já na escola de Epega este mesmo odu pertence ao apola ogbe ocupando a posição n. 17.
Como se pode ver, o oráculo mais novo terá sempre uma quantidade menor de odus em relação ao mais velho. Isto fica claro no final da hierarquia de Epega, pois os omo odus “ose” e “ofun” tem apenas um odu:
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Vimos algumas formas diferentes de hierarquia. Não existe a forma certa, nem a forma errada. O que existe é a forma de cada escola, de cada local, de cada família.
A principal e mais importante diferença nas hierarquias apresentadas é a hierarquia reversa dos omo odus de Epega.
Como é sabido, o oráculo de Ifá possui complementos que particularizam a consulta, e que são baseados na hierarquia não só dos dezesseis odus principais (meji), mas também na hierarquia dos omo odu.
Assim, podemos levantar a hipótese que, caso fosse possível uma consulta seguir os mesmos passos em nas escolas do Ijô Orunmila Ato, de Lagos, e de Epega, o resultado não poderia ser o mesmo, pois as hierarquias opostas de Epega, e do Ijô Orunmila, mais as diferenças de hierarquia dos odus principais de Bascom, levariam as definições complementares do oráculo a conclusões opostas.
BIBLIOGRAFIA
Dispensável.
Apresentada no corpo de texto.