Conheça a história de Júlio André Hernandes, ou melhor agora, Sangokùnle Àkànbí Egbésiná Àdigun – Da casa do Ile Aganju para A casa de Sango em Oyo.
Por ele:
Relutei por muito tempo em compartilhar minhas experiências em Oyó, na Nigéria. Não por achar errado quem o faça, mas por Orixá ser parte de minha essência. É como se eu estivesse revelando minha mais profunda intimidade. Porém, incentivado por irmãos de caminhada, resolvi tornar público um pouco da minha trajetória.
São quase 4 décadas dedicadas ao culto, tendo o início em Lauro de Freitas, no Ilê Axé Opô Aganjú, onde fui iniciado para Sàngó no Axé comandado pelo bàbálorixá Balbino Daniel de Paula (Obaràyí). Completei todas às minhas obrigações naquele solo sagrado, inclusive recebendo pelas mãos do sacerdote da casa, o deká.
Sempre tive a vontade de conhecer a terra de origem do meu Orixá. Isso nasceu com a convivência com Obaràyí, conhecido também por suas inúmeras idas a África, em uma delas eternizada no documentário ” O machado de Xangô”. Viajar para Oyó, pisar em Koso, foi uma sensação indescritível! Estar na terra de Sàngó, com seus filhos, me fez querer mais uma vez colocar Sàngó em destaque absoluto na minha vida. Foi assim que me iniciei no culto tradicional para Sàngó. Cumpri o recolhimento de 17 dias, passando por todos os rituais e ebós necessários. Fases distintas em minha vida, sem juízo nenhum de comparação naquilo que é essencial, o asé. Foi uma honra me consagrar mais uma vez para Sàngó!
Nesse processo pude constatar algumas semelhanças com a diáspora, e também diferenças. Fiquei emocionado ao ver que o ritual do karo por qual passei no Opô Aganjú, é muito semelhante ao ikaro que fiz em Oyó. No processo das ewe, outra grata surpresa, reconheci e nomiei várias ewe usadas pelo bàbá Sàngó, causando uma certa surpresa nos nativos presentes. Segundo os sacerdotes, foram usadas mais de 400 folhas na minha iniciação.
Sempre fui muito estudioso, sabia que existia um culto chamado Egbe Orun em terra yoruba, mas eu nunca tive contato em minha trajetória na diáspora. Na consulta divinatória realizada para mim em Oyo além do Orisa Sango apareceu que eu era um Elegbe e que precisaria me iniciar nesta sociedade espiritual tão importante para os Yorubás. É normal famílias de diversos Orixás, terem uma rotina também de culto a Egbe. Me iniciei também no culto de Egbe e passei por mais 17 dias recolhidos, no “Templo Alaso Osun” em Oyó, uma das casas mais tradicionais de Egbe Orun em toda Yorubaland. Em minha opinião se trata do culto mais complexo que tenho conhecimento. Muitas informações que temos nas redes sociais, em textos, na maioria das vezes não conseguem alcançar a profundidade desse culto. Falo isso, independente da área em território yorubá onde se cultue Egbe. São muitas sociedades, cada uma delas com suas particularidades em mitos, ewe, alimentos votivos, animais, e etc. Uma vida inteira ao lado dos nativos na Yorubaland, não seria suficiente para se conhecer a fundo todas às sociedades. Egbe Orun é um culto primordial no qual me senti honrado por ter sido iniciado. Os segredos que aqueles “potes” carregam, trazem respostas para muitos dos questionamentos humanos.
Somando às duas iniciações, foram 34 dias recolhidos em Oyó, com um intervalo de menos de 5 dias de uma iniciação para outra. Foi extremamente difícil, mas edificante.
Completando minha caminhada por Oyó, tive a oportunidade de visitar inúmeras famílias de Orixá.
Estive na família de Obatala, do bàbá Adisa, grande membro da Asa Orisa. Ofertei sacrifícios a Obatala, e trouxe comigo seu ojubo. Para minha surpresa fui alertado que para levar Obatala, teria também que levar Yemoo. Que além de ser sua companheira, é imprescindível para o seu culto. Sendo regra em Oyó, ter os dois ojubos lado a lado.
Na família de Osun, os acessórios chamaram minha atenção. No ojubo, eu fiquei encantado com os metais de bronze, muitas vezes retirados para serem usados pelas sacerdotisas como adornos, nas roupas, nos cabelos, durante os festivais. Novamente pude notar uma semelhança nos objetos do ojubo de Osun, com alguns assentamentos antigos desse Orixá no Candomblé, em casas que conheci. Foi uma honra trazer Sàngó, Egbe, Obatala e Osun de Oyó!
Alaafin Oyo
Já planejo novas temporadas em terras yorubás. Existe uma infinidade de aprendizados, de descobertas, de encontros, de emoções, tudo pela vontade dos ancestrais. Orixá é vivo aqui e por lá. Sàngó me honrou com essa dupla caminhada.
Julio Omo Sango – Sangokùnle Àkànbí Egbésiná Àdigun – https://www.facebook.com/babalorisajulio.dsango