Diego Guimarães passou pelo processo de iniciação em culto familiar de Ògún na cidade de Òyó – Nigéria -Africa em 2018. Ganhou o Nome de iniciado de Ode Ògúnrogba. A família de iniciação dele é a mesma que atende ao Ògún do Alaafin Òyó.
Vale lembrar que sabemos que cada local pode ser sua própria tradição, e que as respostas dadas, são sobre a experiencia do entrevistado na cidade de Oyo.
Existem experiências que nos fazem gratos, por estarmos naquele momento tendo a oportunidade de sermos testemunhas de algo que carregaremos com carinho por toda nossa existência.
No último dia da minha iniciação para Ògún, na família Rogba em Oyó, na festa de apresentação para o clã dos Odes e toda comunidade, eu tive uma dessas experiências únicas! Estava sentado ao lado dos anciões de Ògún, observando o povo comendo(comidas oferecidas a Ògún e partilhada com todos os presentes) bebendo, dançando, quando notei uma movimentação em frente do ojubó que fica em um local de destaque no quintal.Era um sacerdote mais novo que estava recebendo uma salva simbólica das pessoas presentes, para consultar Ògún através do obi.
O engraçado que entre os presentes, tinham aqueles que eram muçulmanos e aqueles que não eram propriamente do culto. E começou aglomerar gente em torno do ojubó, fazendo um círculo grande, e uma consulta de cada vez foi sendo feita com Obi em Ògún.Em determinado momento, quando chegou a vez de uma mulher que estava vestida com roupas típicas muçulmanas (hijab), a consulta começou a demorar.
O obi foi “jogado” algumas vezes, sem parecer trazer uma resposta conclusiva, não dava para ver quais eram às caídas de longe.
O sacerdote se virou para onde eu estava sentado, chamou bàbá Rogba, e falou algo que não óbviamente não compreendi.Rs Lembro dele levantar contrariado, estava cansado pois naquele dia a obrigação tinha sido grande! Mas ele foi até Ògún, e eu fui junto!
Rs..Chegando lá, saudou Ògún, pegou o Obi, consultou umas duas vezes, virou e falou algo para mulher que a fez sair imediatamente correndo da casa. E ele imóvel na frente do ojubo, e eu também rs, com uma multidão cercando a gente. Em menos de 5 minutos a mulher voltou com uma garrafa de Gin, e entregou para o bàbá Rogba.
Ele mostrou a garrafa para Ògún, derramou o gin nas ferramentas, encostou um obi no ori da mulher e falou algumas palavras. Quando o obi foi ao chão, deu OYAN, e foi aquela gritaria, parecia um gol do Brasil em copa do Mundo! Rs Todos gritamos saudando Ògún, e nos viramos imediatamente para dançarmos de costas, balançando o corpo como Ògún adora!
Ele falou mais algumas coisas para a mulher, que deveriam ser recomendações e voltou a se sentar. E a comunidade continuou se consultando!Essa foi uma experiência de respeito ao Ancestral, de coletividade, da força do Orixá, da fé, e da presença na vida de sua comunidade, que eu jamais esquecerei!
Um ponto especial nisso tudo, é minha família só usar o OBI como oráculo. Não tem odu, e nem precisaria! É assim que nos comunicamos com Ògún! Foram inúmeros os recados e os esclarecimentos que recebi e presenciei sendo extraídos com o obi. Não existe nenhuma MENSAGEM que não possa ser recebida através do OBI! Eu hoje toco o meu culto familiar, minha relação com o sagrado, com os ancestrais, somente consultando obi. Obi é a boca do Orixá! E o povo de Ògún são exímios consultadores. Osògún!” (Diego Guimarães Ògúnrogba)
1-Renata Barcelos ( Yemojagbemi Arike ): Por que você quis se iniciar em Ògún na África ? E porque escolheu Òyó ?
Diego Guimarães (Ògúnrogba) : Vou ter que voltar às minhas origens mais uma vez para poder responder essa pergunta. Nasci em uma família candomblecista, com pai e mãe iniciados para Orixá. Quando meus pais faleceram me afastei do culto, e comecei a ter problemas de todas às ordens: materiais, de saúde, sociais e etc.
Um dia tive uma inspiração de procurar pelo meu padrinho, grande amigo dos meus pais, iniciado para Osun, por Waldomiro Baiano, e fui até a sua residência. Um adendo, meu padrinho além de amigo dos meus pais, era o que chamamos na diáspora de tio de santo. Meu pai foi iniciado por Gamo da Osun, que por sua vez foi iniciado por Waldomiro Baiano. E minha mãe por Fomão, que era da casa de Francisco de Yemoja, também filho de Waldomiro Baiano.
Então, chegando na casa do meu padrinho, estava tendo naquele momento uma obrigação para Ògún, e eu cheguei no exato momento que iria começar. Por lá também estava iyá Nanga de Oyá, hoje junto com meu padrinho meus pilares no culto. Iyá Nanga, grande agba do Parque Fluminense, também iniciada por Waldomiro Baiano. Então, eu já cheguei participando efetivamente da obrigação, foi meu reencontro com o culto e com a minha família espiritual.
Passei a frequentar algumas casas, mas sempre que o sacerdotes sinalizavam a vontade que eu tivesse um função de destaque no ilê, eu acabava me distanciando. E ia me cuidando com meu padrinho, e com minha iyá, participando de funções e etc. E começou a crescer a necessidade de eu tocar minha vida espiritual com mais disciplina. Porém, não queria compromisso com uma casa de Axé, com alguns dogmas e costumes. Foi nesse momento que conheci um sacerdote do culto Vodun, Raphael Zodaavi, que me ajudou muito me apresentando a África, e o culto familiar, apesar de ser de uma tradição diferente. Ele me alertou que meu caminho talvez seria o culto familiar. Então, eu tive o apoio da minha iyá, do meu padrinho, e numa passagem pela Bahia, me consultei com um sacerdote oriundo do Opo Afonjá, e o oráculo me avisou que em breve eu faria um grande resgate espiritual.
Para resumir, conheci a Asa Orixá no facebook, comecei a acompanhar o trabalho da doutora Paula Gomes, da OrixáBrasil também do grupo Orixá University e através de dois sacerdotes que tinham acabado de retornar da África, me aproximei do culto em Oyó. Foram eles, bàbá Flavio Monteiro de Oyá, e iyá Leoni de Oyá, que me fizeram conhecer mais sobre Oyó, e foi onde eu fiquei admirado por todo trabalho de preservação feito pelo Rei pela doutora Paula. E foi essa luta de preservação da cultura yorubá, e das famílias de Orixá, que me fizeram optar por Oyó. E assim, eu optei pelo culto familiar, cultuando Ògún junto com meus filhos e esposa, dando continuidade a minha ancestralidade. Sigo firme buscando legitimidade apenas em Ògún! Meu culto é familiar, não busco reconhecimento externo e nem nada que não seja a dádiva do pertencimento.
2- Renata Barcelos ( Yemojagbemi Arike ): Sabemos que no Brasil tem uma corrente Africanista que esta muito ligada a ifá – Orixá Orunmila , por que você não escolheu esse caminho ? O que você tem a dizer para as pessoas que acham que Ifá é o nome da religião Orixá, e que é o único caminho para pratica do Orixá da áfrica?
Diego Guimarães (Ògúnrogba) : Sem querer ser redundante, eu nasci em uma família de candomblecistas, e o Orixá sempre teve um papel de destaque em relação a todos os âmbitos de nossas vidas. Nunca tivemos a necessidade de um culto específico ou um oráculo, para buscarmos nosso caminho espiritual. Então, na hora de optar por me iniciar na África, foi bastante natural permanecer da forma que sempre lidei com aquilo que acredito. Ògún, sempre foi o caminho! Erroneamente é comum na maioria das pessoas que buscam conhecer o culto tradicional de Orixá na África, acreditarem que se trata somente de Ifá. Até hoje me perguntam: Você fez Ògún em Ifá? Isso nada mais é do que falta de conhecimento, aliado ao discurso de alguns adeptos de Ifá(Não todos) que pregam uma supremacia. Faço questão de salientar que fui iniciado em uma família centenária de Ògún, no seu clã, de forma tradicional, sem influências de nenhum outro culto.
3- Renata Barcelos ( Yemojagbemi Arike ): Então.. você não teve que passar por iniciação de ifá para descobrir que seu Orixá era Ògún mesmo se iniciando na África?
Diego Guimarães( Ògúnroga) : Eu nunca passei por ifá para descobrir meu Orixá. Sou a segunda geração iniciada para Ògún em minha família. Meu pai carnal era iniciado para Ògún no Candomblé, e eu herdei a influência desse Ancestral.
4- Renata Barcelos ( Yemojagbemi Arike ): Algum babalawo foi consultado para sua iniciação ?
Diego Guimarães (Ògúnrogba) : não
5- Renata Barcelos ( Yemojagbemi Arike ) :Algum membro da sua família de Ògún era iniciado em ifá?
Diego Guimarães (Ògúnrogba) : Meu iniciador é somente iniciado para Ògún.
6- Renata Barcelos ( Yemojagbemi Arike ) :Algum outro grupo de Orixá esteve presente em sua iniciação? Ògún tem hierarquia própria?
Diego Guimarães (Ògúnrogba) : Ògún tem autonomia total. e hierarquia própria. Em minha iniciação não foi necessário nenhuma interação com outros orixás os único orixás que foram cultuados foram Ògún e Osoosi!
7- Renata Barcelos ( Yemojagbemi Arike ) :Então você viu Ògún e Osoosi sendo cultuados juntos?
Diego Guimarães (Ògúnrogba) : Ògún e Osoosi na minha família só se cultuam juntos. Ao cultuarmos Ògún em seu ojubó, estamos cultuando Osoosi.
8- Renata Barcelos ( Yemojagbemi Arike ):Osoosi tem ojubo próprio?
Diego Guimarães (Ògúnrogba) : Osoosi tem ferramenta própria que fica junto do ojubó de Ògún.
Veja ai como se chama o vestuário de Ogun em Oyo- Nigéria.
9- Renata Barcelos ( Yemojagbemi Arike ): O culto de Ògún em Òyó tem Ota (pedra)? Qual a saudação de Ògún? Uma cor específica de Ògún?
Diego Guimarães ( Ògúnrogba): Sim, uma pedra de nome é Ako Okuta não sei como escreve na grafia Yorùbá ou qual o nome desta pedra no Brasil.
Eu também não sei se existe uma cor especifica em toda terra Yorùbá, mas meu ileke é preto.
O cumprimento dentro da minha família de Ògún, e dentro do clã dos Odes, é O sògún, tendo como resposta do interlocutor iku eran. O cumprimento é um pouco mais extenso, mas usando essas duas palavras, já vai surtir efeito.
10- Renata Barcelos ( Yemojagbemi Arike ) :Qual tipo de Oráculo a família de Ògún em Òyó usa?
Diego Guimarães (Ògúnrogba) : Obi, somente obi.
11- Renata Barcelos ( Yemojagbemi Arike ) : você viu algum outro oráculo ser consultado na sua iniciação?
Diego Guimarães (Ògúnrogba) : Na família de Ògún, Não!
12- Renata Barcelos ( Yemojagbemi Arike ): você sentiu falta, ou percebeu que os sacerdotes sentem falta de não ter erindilogun ou opele e ikin ?
Diego Guimarães (Ògúnrogba) : Negativo! Através do obi Ògún esclarece tudo aquilo que for necessário para o iniciado. Inclusive com a revelação de todos os ewos.
13-Renata Barcelos ( Yemojagbemi Arike ): Se puder nos dizer o obi da família de Ògún tem quantas quedas possíveis?
Diego Guimarães (Ògúnrogba) : Máximo 5. Okan, etawa, isegun, alaafia e oyan.
14- Renata Barcelos (Yemojagbemi Arike) :dentro das quedas ..a consulta é feita invocando algum odu?
Diego Guimarães (Ògúnrogba) : Sem nenhuma menção de odu, nada.
14- Pontos cardeais, ou macho fêmea é usado para consultar o obi na família de Ògún?
Diego Guimarães (Ògúnrogba) : Não para as duas coisas, porem existem particularidades nas quedas que são próprias de cada família de Orixá.
15- Renata Barcelos ( Yemojagbemi Arike ): através do Obi .. seu sacerdote consegue falar algo sobre seu futuro?
Diego Guimarães (Ògúnrogba) : Sim, recebi recomendações para a minha vida.
16- Renata Barcelos (Yemojagbemi Arike): seu sacerdote de Ògún faz consulta para fora ? para outras pessoas? faz ebo? resolve o problemas de outros?
Diego Guimarães (Ògúnrogba) : Eu vi ele atendendo às pessoas da comunidade, vizinhos ou odes do clã e atende ao próprio Alaafin Òyó ele é membro da Asa Orixá Alaafin Oyo. Associação de sacerdotes que representam a cidade de Oyo e atendem ao Alaafin.
17- Renata Barcelos ( Yemojagbemi Arike ): Qual oráculo utilizado para fazer o esentaye na família de Ògún? tem que levar para outro sacerdote que saiba outro oráculo?
Diego Guimarães (Ògúnrogba) : tudo é feito com obi. esentaye é também feito com obi. não é preciso chamar ou levar uma criança para outro sacerdote.
18- Renata Barcelos ( Yemojagbemi Arike ) :você já se consultou com opele ikin, e erindilogun alguma vez?
Diego Guimarães (Ògúnrogba) :Sim, com ambos.
19- Renata Barcelos ( Yemojagbemi Arike ) :-e quando a consulta foi feita apenas com obi você achou que foi menos profunda, que faltaram informações que você teria mais profundidade com outros oráculos?Já que você já se consultou com outros oráculos e pode comparar.
Diego Guimarães (Ògúnrogba) :O que determina a profundidade do oráculo é o conhecimento daquele que consulta. Recebi recomendações através do obi que tratam de questões complexas.
20- Renata Barcelos ( Yemojagbemi Arike ) O Obi tem alguns padrões de leitura que são populares, é possivel consultar qualquer Orixá?
Diego Guimarães (Ògúnrogba) :Na minha visão de culto é necessário que exista uma ligação com o Orixá. É importante saber evocar e criar uma interação. é o conhecimento profundo sobre aquele Orixá que torna a respostas do obi mais complexa, saber perguntar é tão ou mais importante que interpretar as quedas, e é o conhecimento que manda. Exemplo simples, pela tradição oral a família de Ògún conhecem muitas medicinas, só o profundo conhecedor desta oralidade poderá perguntar para Ògún se a medicina x resolve o problema e é assim com todos os Orixá.
Sacerdote de Ogun – consultando Obi em Oyo – Nigeria.
21-Renata Barcelos ( Yemojagbemi Arike ):..se a família de Ògún não tem odu como eles passam o conhecimento de Ògún para frente?
Diego Guimarães (Ògúnrogba) :Através da oralidade, de cânticos de exaltação(ìjálá) e cânticos fúnebres(Ìrémòjé) de itans que não possuem a mesma estrutura do usado dentro dos odu nos búzios ou em ifá, mas que são historias, os feitos de Ògún, também através da observação muitas medicinas são aprendidas e ensinadas aos mais novos, as crianças estão sempre perto do culto vendo tudo e absorvendo é assim que o conhecimento passa de geração para geração, eles colocam as crianças desde novas para aprender.
22-Renata Barcelos ( Yemojagbemi Arike ) :sem itan dentro de odu na família de Ògún, você acha que o culto de Ògún se perdeu com o tempo? acha que por não há registro em odu algo pode ter sido perdido?
Diego Guimarães (Ògúnrogba) :Acredito que por questões socioeconômicas, e também históricas, algumas coisas podem ter sido perdidas , proibições da legislação e ou simplesmente desuso ou substituição.Mas isso não seria algo exclusivo do culto a Ògún, mas de todos os Orixás registrado ou não em algum odu o culto é antes de escrito, oral ! alias muitos sacerdotes mais velhos não sabem escrever ou ler e muitos também não sabem inglês. Outra coisa que colabora com o esquecimento de práticas é o domínio e a influência de outros cultos e religiões.
23- Renata Barcelos ( Yemojagbemi Arike ): Seu sacerdote inicia pessoas para outros Orixá? Seu sacerdote é iniciado para mais algum Orixá? E se alguém chegar a nigeria e precisar do Orisa Sango ou outro Orisa seu sacerdote não atenderia ? não faria a iniciação? Como ficam as pessoas que tem a necessidade de um outro Orixá que não Ogun?
Diego Guimarães (Ògúnrogba) : Meu sacerdote só inicia pessoas para Ogun, ele é iniciado apenas em Ogun, se alguém precisa ser iniciado em Sango OU Oya , OU outro Orisa elas devem procurar a ajuda do sacerdote do Orixá que ela tem necessidade de culto. Em Oyo é muito comum encontrar famílias especializadas em um único Orixá, mas cada pessoa só terá UM Orixá e quando atingir o sacerdócio apenas poderá iniciar as outras pessoas no Orisa que ela foi iniciada.
24 -Renata Barcelos ( Yemojagbemi Arike ) :Ògún pode resolver quais tipos de problema? pode ajudar alguém a ter filho? curar uma doença? tirar inimigos? trazer prosperidade?
Diego Guimarães (Ògúnrogba) :Tudo aquilo que aflige o homem, seja materialmente ou espiritualmente pode ser pedido a Ògún, a intervenção necessária.
25- Renata Barcelos ( Yemojagbemi Arike ) :Como é o entendimento de destino ? você acredita que seus sacerdotes puderam olhar para seu caminho? acessar as recomendações necessárias para o resto da sua vida?
Diego Guimarães (Ògúnrogba) :Eu não acredito em um caminho imutável, mas tenho convicção que possuímos predisposições, que geralmente são revaladas no esentaye, que a própria família de Ògún, faz somente com o obi. Contudo na iniciação eu recebi recomendações do meu sacerdote em relação a esses comportamentos que sou inclinado a possuir, me alertando para melhores atitudes para o meu futuro.
Tenho conhecimento que todos iniciados passando ou não pelo essentaye receberão conselhos sobre seu caminho na terra, que data então daquele momento para frente. Um fato curioso é que uma das coisas reveladas me disseram que provavelmente poderia ter sido descoberto desde o esentaye.
26- Renata Barcelos ( Yemojagbemi Arike ); E agora passado já quase um ano que você foi iniciado em Ògún sente falta de não ser iniciado em outro Orixá ? você gostaria de ser iniciado em outro Orixá? sua família de Ògún em Òyó aceitaria?
Diego Guimarães (Ògúnrogba) :Eu não sinto a falta de ser iniciado em nenhum outro Orixá, e caso fosse a minha vontade, não teria o respaldo da minha família em Oyó pois lá se acredita que existe apenas um orixá para qual é preciso se iniciar. O que não impede que eu cultue outros Orixás, coisa que faço desde que sou criança.
27- Renata Barcelos ( Yemojagbemi Arike ): você sentiu muita diferença do culto de Ògún do Brasil e da Nigéria?
Diego Guimarães (Ògúnrogba) :Existem diferenças e semelhanças. Posso pontuar aqui os alimentos votivos, que são iguais ao que oferecemos no Brasil: Inhame, feijão fradinho, dendê! Os ferros de todos os tipos dentro do ojubo.
28- Renata Barcelos ( Yemojagbemi Arike ): O que você acha do culto afro-brasileiro hoje?
Diego Guimarães (Ògúnrogba) :Eu sou oriundo do Candomblé, meus pais eram iniciados, assim como meu irmão também. Sou próximo de pessoas que ainda permanecem no culto afro-brasileiro como meu padrinho, e minha iyá, e todos com a mesma linhagem que tem como princípio Waldomiro Baiano, no Parque Fluminense. Acho que os adeptos deveriam se aproximar mais das casas matrizes, procurando seguir corretamente a tradição. Seguindo o modelo de sua raiz, evitaremos à maioria das deturpações que observamos nos dias de hoje.
29- Renata Barcelos (Yemojagbemi Arike) Eles matam cachorro para Ògún?
Diego Guimarães (Ògúnrogba) : Esse é assunto polêmicos para nós brasileiros, pois os cachorros em nossa sociedade muitas vezes ganham uma posição familiar, por se tratarem de animais domesticados. Na África se sacrifica o cachorro para Ògún, pois se trata de outro contexto cultural. É uma espécie selvagem, que não tem a conotação que damos aqui. Vale ressaltar que o cachorro é a oferta que Ògún mais gosta. No livro Africa’s Ògún: Old World and New, de Sandra T. Barnes, tem registros históricos de sacrifício de cachorros para Ògún, na Costa de Lagos, no ano de 1603.
30- Renata Barcelos ( Yemojagbemi Arike ) como você ve as famílias de Ògún hoje? elas desempenham qual papel na sociedade Yorùbá?
Diego Guimarães (Ògúnrogba) : Ògún nasce como o grande ode, no período paleolítico inferior, na necessidade do homem sobreviver através da caça. Depois veio a necessidade de defesa do território, o cultivo da terra com a agricultura, e somente depois o domínio do homem sobre o ferro. O culto a Ògún, tem como tríade a caça, a guerra e o ferro! E assim foram às funções desempenhadas pelo povo de Ògún ao longo da história. A sobrevivência e o comércio através da caça. O trabalho de artista na forja com o ferro, e o apoio aos exércitos locais em defesa do território. Ainda são essas às funções desempenhas por muitas das famílias de Ògún. A modernidade também tem seus efeitos na África, e nos cultos. Então, hoje em dia eu vejo cada vez ficará mais distante ou melhor, mais flexível os papéis das famílias de Ògún nos novos tempos.
31 – Renata Barcelos ( Yemojagbemi Arike ) para fechar nossa conversa, algo que surgiu com suas respostas, você acredita que o clã de Ogun perdeu o dominio de outros oraculos e por isso só utilizam o Obi?
Esse tema é muito extenso, teríamos que discorrer sobre toda a complexa história da formação dos cultos de Orixá em terras Iorubá. Neste ponto incluo coletas orais para simplificar a questão! Não é só Orixá Ogun, que faz uso exclusivo do obi, e ressalto ainda que a maioria dos cultos em terra iorubá, que usam outras ferramentas , não dispensam o uso do obi, inclusive tenho conhecimento que junto com o orogbo, são oráculos primordiais de todos os Orixá. O obi e o orogbo podem ser tão profundo como qualquer outro oráculo, baseados no conhecimento que o sacerdote tem sobre o culto ao seu Orixá. O odu não faz falta para as comunidades que não fazem uso deste método. O que é fundamental a todos os oráculos é o conhecimento do Orixá, sem esse conhecimento não há como consultar nada.
Em Òyó muitas comunidades de outros Orixás usam jogo de búzios , também há famílias de ifá , se fosse importante para o clã de Ogun aprender Não faltariam professores . Simplesmente não precisam!
Entrevista realizada dia 1 de Julho de 2019.
Orisa Brasil – OGUN OGUN OGUN Iniciação de Ògún na cidade…
OGUN OGUN OGUN Iniciação de Ògún na cidade de Òyó – Nigéria Inhame com dendê , feijão cozido usados para alimentar Ògún O iyawo com os trajes…
Video da Iniciação de Ogun de Diego Guimarães (Ogunrogba)