ORÍ, O ÚNICO QUE ACOMPANHA SEU DEVOTO – Ogunda Meji – traduzido por Luiz. L Marins original – Wande Abimbola

REVISTA OLORUN, n. 45, dez. 2016

ISSN 2358-3320 – www.olorun.com.br 

ORÍ, O ÚNICO QUE ACOMPANHA

SEU DEVOTO

WANDE ABIMBOLA

Tradução de Luiz L. Marins

https://luizlmarins.wordpress.com

01/08/2016

Revisão:

Outubro de 2020

Adaptação e layout: do tradutor.

Publicado no livro Ifa, An Exposition of Odu Corpus, por Wande Abimbola, 1976,

Recitado pelo babalaô Alawonifa Animasaum Oyedele Isola, 48 anos, Ile Beesin, Pakoyi, Oyo, entre 1963 e 1970;

Método de pesquisa: gravação e escrita; local da coleta: Baàsì e Ońsà Campus, Oyo. Também em Sixteen Greats Poems of Ifa, Unesco, 1977.

RESUMO:

“Òrúnmìlà propôs aos babalaôs a seguinte questão:

Qual Òrìsà (inclusive Òrúnmìlà) poderia acompanhar seu devoto numa longa viagem pelo mar, sem retornar? Todos os Òrìsà (inclusive Òrúnmìla) responderam que poderiam.

Ifá perguntou aos Òrìsà (inclusive Òrúnmìlá), um por um, o que ele faria se antes da viagem ele visitasse sua terra natal, e lá fosse recebido com festa, e lhe fossem oferecessem todas as comidas e bebidas de que ele mais gostava.

Todos os Òrìsà (inclusive Òrúnmìlà) responderam que primeiro comeriam e beberiam até ficarem fartos, e depois iriam para suas casas.

Então, Ifá disse-lhes que eles não poderiam acompanhar seu devoto.

Os babalaôs, reconhecendo a ignorância deles, e Òrúnmìlà como mestre, pediram que lhes dissesse, então, quem poderia então acompanhar seu devoto numa longa viagem pelo mar, sem retornar? 

Ifá respondeu, que Orí é o único que pode acompanhar ser devoto numa longa viagem pelo mar, sem retornar.”

ÒGÚNDÁ MÉJÌ

1. “Òrúnmila diz que quando entramos no quarto sagrado, abaixamos a cabeça na porta”
2. Ifá colocou a seguinte questão aos babalaôs:
3. “Quem entre os Òrìsà pode acompanhar seu devoto numa longa viagem pelo mar, sem retornar?”
4. Sàngó disse que ele poderia acompanhar seu devoto numa longa viagem pelo mar, sem retornar.
5. Foi perguntado a ele:
6. “O que você faria se após tiver caminhado por uma longa distância, caminhado e caminhado, você chegasse em Kòso(1), a casa de seus pais,
7. E eles te preparassem gbègìrìe(2) okà(3), e dessem para você, orobôs e um galo?”
8. Sàngó respondeu:
9. “Depois que comer até ficar satisfeito, eu retornarei para minha casa.”
10. Foi dito para Sàngó que ele não poderia acompanhar seu devoto numa longa viagem pelo mar, sem retornar.
11. “Òrúnmila diz que quando entramos no quarto sagrado, abaixamos a cabeça na porta”
12. Ifá colocou a seguinte questão aos babalaôs:
13. “Quem entre os Òrìsà pode acompanhar seu devoto numa longa viagem pelo mar, sem retornar?”
14. Oya disse que ela poderia acompanhar seu devoto numa longa viagem pelo mar, sem retornar.
15. Foi perguntado a ela:
16. “O que você faria se após você tiver caminhado uma longa distância, caminhado e caminhado, e você chegar em Irá(4), a casa de seus pais,
17. E eles matarem um animal gordo, e te oferecerem um pudim de milho?”
18. “Após comer e estiver satisfeita, voltarei para minha casa.”
19. Eles disseram que ela não poderia acompanhar seu devoto numa longa viagem pelo mar sem retornar.”
20. “Òrúnmila diz que quando entramos no quarto sagrado, abaixamos a cabeça na porta.”
21. Ifá colocou a seguinte questão aos babalaôs:
22. “Quem entre os Òrìsà pode acompanhar seu devoto numa longa viagem pelo mar, sem retornar?”
23. Òòsàálá(5) disse que ele poderia acompanhar seu devoto numa longa viagem pelo mar, sem retornar.
24. Foi perguntado a ele:
25. “O que você faria se após tiver caminhado por uma longa distância,
26. Caminhado e caminhado, você chegar em Ifón, a casa de seus pais,
27. E eles te matarem uma galinha cheia de ovos, e te oferecerem duzentos ìgbín(caracóis) temperados, com vegetais e melão?”
28. Òòsàálá disse:
29. “Após comer até me satisfazer, voltarei para minha casa.”
30. Foi dito para Òòsàálá que ele não poderia acompanhar seu devoto, numa longa viagem pelo mar, sem retornar.
31. “Òrúnmila diz que quando entramos no quarto sagrado, abaixamos a cabeça na porta.”
32. Ifá colocou a seguinte questão aos babalaôs:
33. “Quem entre os Òrìsà pode acompanhar seu devoto numa longa viagem pelo mar, sem retornar?”
34. Elégbárá(6) disse que ele poderia acompanhar seu devoto numa longa viagem pelo mar, sem retornar.
35. Foi perguntado a ele:
36. “O que você faria se após tiver caminhado por uma longa distância,
37. Caminhado e caminhado, você chegar em Kétu(7), a terra de seus pais
38. E eles te derem um galo e bastante azeite de dendê?
39. Èsù respondeu:
40. “Depois que comer até ficar satisfeito, eu retornarei para minha casa”
41. Foi dito para Elégbárá que ele não poderia acompanhar seu devoto numa longa viagem pelo mar, sem retornar.
42. “Òrúnmila diz que quando entramos no quarto sagrado, abaixamos a cabeça na porta.”
43. Ifácolocou a seguinte questão aos babalaôs:
44. “Quem entre os Òrìsàpode acompanhar seu devoto numa longa viagem pelo mar, sem retornar?” 
45. Ògún disse que ele poderia acompanhar seu devoto numa longa viagem pelo mar, sem retornar.
46. Foi perguntado a ele:
47. “O que você faria se após tiver caminhado por uma longa distância,
48. Caminhado e caminhado, você chegar em Ìré(8), a terra de seus pais
49. E derem a você feijões fritos, e matarem um cachorro para você, junto com uma galinha, e derem a você cerveja de milho e vinho de palma?”
50. Ògún(9) respondeu:
51. “Depois que comer até ficar satisfeito, eu retornarei para minha casa, cantarei Ìjálá alto e alegremente durante todo o caminho.”
52. Foi dito para Ògún que ele não poderia acompanhar seu devoto numa longa viagem pelo mar, sem retornar.
53. “Òrúnmila diz que quando entramos no quarto sagrado, abaixamos a cabeça na porta.”
54. Ifá colocou a seguinte questão aos babalaôs:
55. “Quem entre os Òrìsàpode acompanhar seu devoto numa longa viagem pelo mar, sem retornar?” 
56. Òsun(10) disse que ela poderia acompanhar seu devoto numa longa viagem pelo mar, sem retornar.
57. Foi perguntado a ela:
58. “O que você faria se após tiver caminhado por uma longa distância,caminhado e caminhado, você chegasse em Ìjùmu(11), a casa de seus pais, 
59. E eles dessem para você bastante èko(12), junto com yánrin(13) e sèkèté (14)
60. Òsun respondeu:
61. “Depois que comer até ficar satisfeita, eu retornarei para minha casa.”
62. Foi dito para Òsun que ela não poderia acompanhar seu devoto numa longa viagem pelo mar, sem retornar. 
63. “Òrúnmila diz que quando entramos no quarto sagrado, abaixamos a cabeça na porta.”
64. Ifá colocou a seguinte questão aos babalaôs:
65. “Quem entre os Òrìsà pode acompanhar seu devoto numa longa viagem pelo mar, sem retornar?” 
66. Òrúnmìlà disse que ele poderia acompanhar seu devoto numa longa viagem pelo mar, sem retornar. 
67. Foi perguntado a ele:
68. “O que você faria se após ter caminhado uma longa distância, caminhado e caminhado, e você chegar em Ìgètí(15), a casa de seus pais, 
69. E eles derem a você dois eku(16), dois peixes que nadam graciosamente, duas galinhas com fígados grandes, duas cabras, duas vacas de chifres pequenos, 
70. E preparem inhame amassado,e preparassem okà(17), te dessem uma cerveja de milho da guiné bem-feita, e te dessem pimenta, e te de dessem bons obì.
71. Òrúnmìlà respondeu:
72. “Após comer até ficar satisfeito, eu retornarei para minha casa.”
73. Foi dito para Òrúnmìlà que ele não poderia acompanhar seu devoto numa longa viagem pelo mar, sem retornar. 
74. Os babalaôs estavam admirados,
75. Eles não puderam dizer uma só palavra.
76. Porque eles não haviam compreendido a parábola.
77. Màpó⁽¹⁸⁾ da cidade de Eléré 
78. Mòkun(19) da cidade de Òtan (20)
79. Mèsín(21) da cidade de Ìláwè (22)
80. Màpó da cidade de Eléjèlú  (23)
81. Gbólájókõo(24) responsável pela trombeta das presas do elefante.  
82. Eles disseram:
83. “Nós confessamos nossa ignorância,
84. Por favor, cubra-nos com sua sabedoria.”
85. Eles disseram:
86. “Òrúnmìla, você é nosso líder,somos seus seguidores, 
87. Você é o sábio que ensina a alguém sua própria sabedoria.”
88. Ifá colocou a seguinte questão aos babalaôs:
89. “Quem entre os Òrìsà pode acompanhar seu devoto numa longa viagem pelo mar, sem retornar?” 
90. Ifá disse:
91. “É Orí… 
92. Oríé o único, que pode acompanhar seu devoto numa longa viagem pelo mar, sem retornar.”
93. Òrúnmìlà disse:
94. “Quando um sacerdote de Ifá morre,
95. As pessoas dizem que seus instrumentos divinatórios devem ser lançados dentro de um fosso.”
96. “Quando um devoto de Sàngó morre,
97. Seus instrumentos devem ser jogados fora.”
98. “Quando um devoto de Òòsàálá morre,
99. As pessoas dizem que seus instrumentos devem ser enterrados com ele.”
100. “Mas desde sempre, quando as pessoas morrem,
101. A cabeça não é separada do corpo.”
102. Ifá diz:
103. Orí é o único, que pode acompanhar seu devoto numa longa viagem sobre o mar, sem retornar.”
104. Se eu tenho dinheiro,
105. É Orí que devo louvar,
106. Meu Orí, é só você.
107. Se eu tenho filhos no mundo,
108. É Orí que devo louvar,
109. Meu Orí, é só você.
110. Todas as coisas boas que tenho no mundo,
111. É ao meu Oríque devo agradecer,
112. Meu Orí, é só você.
113. Meu Orí, eu te louvo,
114. Você que nunca esquece o seu devoto.
115. Que abençoa seu devoto mais rápido que qualquer outro Òrìsà.
116. Nenhum Òrìsà abençoa um homem,
117. Sem o consentimento de seu Orí.
118. Orí, eu te louvo.
119. Você que permite os filhos nascerem.
120. A pessoa cujos sacrifícios são aceitos por seu Orí,
121. Se alegrará abundantemente.

Inserimos o extrato da parte final do verso ioruba, conforme o livro Ifá, An Exposition of Odu Corpus, p. 137, para simples conferência (nota do tradutor):

1. Kòso é o lugar onde o chefe do culto de Sàngó vive, em Òyó. O nome é derivado de kò so (ele não se enforcou), ditado popular de Òyó.

2. Esta sopa é feita com feijão e temperos.

3.Oya é a mulher de Sàngó, o deus do trovão. Acredita-se que ela controla os vendavais.

4. Irá é o nome de uma cidade ioruba creditada por ser a casa de Oya.

5.Òòsàálá é o deus ioruba da criação.

6.Elégbára é outro nome para Èsù.

7.Kétu, uma cidade ioruba no Dahomey. Acredita-se ser a casa de Elégbára.

8. Acredita-se que a cidade Ìrè é a casa de Ògún.

9.Ògún é o deus ioruba da guerra, cujo símbolo é o ferro.

10.Òsun é uma divindade ioruba cujo símbolo é o rio conhecido pelo mesmo nome.

11. Acredita-se que a cidade Ìjùmu é a casa de Òsun.

12.Um tipo de pudim, sólido, feito com farinha de milho.

13. Èfó Yánrin, Làtípà. Launaea Taraxifolia. Língua de vaca (Ewé, Pierre Verger, p. 689).

14.Bebida alcóolica feita de milho.

15.Ìgètí é o nome do lugar que se acredita que Òrúnmìlà ficou quando foi para Ifè. 

16. Rato selvagem.

17. Tipo de àmàlà feito com farinha de inhame. ¹⁸ Um título honorífico.

18. O nome de um lugar.

19. Um título honorífico.

20. Uma cidade do Estado de Òsun.

21. Um título honorífico.

22. Uma cidade do Estado de Èkiti.

23.O nome de um lugar.

24. Nome ioruba que significa “aquele que se senta na honra”.

Foto: ILE ÁSE ÌYÀMÍ ÓMÌ TÙTÙ